segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

JIVM - MANDALAS


MANDALAS

Ilustrações: Wilo Ayllón

I

Seguraste o Sol nas costas.
Agora, reconheces nas cicatrizes
os nomes que queimaram teu corpo,
marcas que anunciam os sofrimentos
que fizeram de ti este ser estranho
que fez uma espera para tocaiar

o silêncio.



II

Na tua vigília,
deste passagem às palavras
e construístes um totem
aos deuses do espanto.

Da tua língua, nasceu
a mandala dos versos,
rebanho que se reúne
nas brasas do Amor.



III

Meus camelos trazem oceanos no bojo
e são mais desertos que o Saara.

Meus camelos bebem as águas do Tejo
e me levam para os seios de Sara.

Meus camelos levam os três reis magos
e caminham sem pressa rumo ao Norte.

Meus camelos ruminam na paciência
e caminham sem pressa para a morte.



IV

O sonho dorme nos espelhos
e acorda dentro do sono
para celebrar os encantos
e os tumultos do chacal.

Os olhos dos bichos estão
apregados nos espelhos
e por todos os lados
chove o voo dos morcegos.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
Mandalas de Wilo Ayllón

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO: UM POETA DE SOL E PEDRA


Por Salgado Maranhão

Salgado Maranhão
“Os poetas são bichos no escuro./Trazem a vertigem nos pés/e um candeeiro nas mãos/para ofuscar os demônios”. Eis a voz instigante e singular do poeta José Inácio Vieira de Melo que, do sertão da Bahia, ergue suas palavras de pedra para construir uma poética rigorosamente pessoal, num tempo em que muitos ainda buscam o cobertor dos alinhamentos literários. Inácio, no seu Pedra Só, um dos mais celebrados lançamentos deste ano, mergulha fundo nas mitologias nordestinas, aportando seu canto na tradição ibérica dos aboiadores e tangedores de gado. Porém, sua poética não se pretende folclorista: ao apoderar-se dos ritos regionais, o faz com o domínio e o padrão de qualidade da grande poesia brasileira e ocidental. De modo que, embora a sua linguagem não exclua a influência dos grandes mestres como, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Joaquim Cardozo, sua opção sintática é mítica e telúrica, uivando inquietude entre o sol inclemente e as pedradas desses duros tempos.

Salgado Maranhão é poeta, letrista e jornalista. Autor de livros como Mural dos Ventos (1998), vencedor do Prêmio Jabuti, e A cor da palavra (2009), vencedor do Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

PERFIL LITERÁRIO – JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO




Ouça, logo abaixo, a entrevista que Oscar D’Ambrosio fez comigo, agora no início de fevereiro, para o Programa Perfil Literário, da Rádio Unesp, tendo como foco principal o meu livro Pedra Só. Entrevista 1654.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PAULO MATRICÓ - ESPINHO NA PEDRA



Paulo Matricó

ESPINHO NA PEDRA


Salve José, chegou tua “pedra”
Veio solteira, mas não veio “só”
Trouxe consigo, por dentro de si
Um arrepio, um seco estalo, um nó!

Aquele espanto de surpresa boa
Dessas que só um sertanejo pensa
Que não se mede com pena culta
Por que germina na raiz da crença!

Adivinhaste onde está nosso pão
E nossa fé, é nossa única mão
Para buscá-lo, um a cada dia

Minha surpresa é o teu carinho
Meu arrepio foi aquele espinho
E as “vozes secas” de tua poesia!


PAULO MATRICÓ