sexta-feira, 30 de novembro de 2012

VIDEOCAST COM O POETA JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO - PORTAL CRONÓPIOS


 O poeta e ativista cultural José Inácio Vieira de Melo foi recebido no escritório e estúdio do Cronópios. José Inácio vive na Bahia e é um ativista mesmo da poesia e da literatura brasileira. Seus esforços e interesses estão concentrados na valorização de autores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O poeta é também editor e curador, consultor ou organizador de importantes eventos literários. José Inácio Vieira de Melo veio ao Cronópios para falar um pouco de seu trabalho e principalmente lançar seu mais recente livro, Pedra Só, idealizado e composto sob um teto repleto de estrelas das noites em seu rancho sem luz elétrica ou proximidade de cidades. Bom leitor de poemas, JIVM lê para os cronopianos alguns dos novíssimos poemas de Pedra Só

terça-feira, 27 de novembro de 2012

PEDRA SÓ - ABRIGO E SANTUÁRIO


Por Ana Maria Rosa


Ana Maria Rosa

“Percebo que, em toda criação artística, 
se insinua uma infância única e intransferível”.
Bartolomeu Campos de Queirós

O livro Pedra Só, desde sua capa, uma bela fotografia de Ricardo Prado, fornece ao leitor, mesmo ao mais desavisado, uma deixa de que o poeta José Inácio Vieira de Melo pretende conduzi-lo às terras agrestes do Sertão – seja esse dentro ou fora –, pois, ali, estão seus signos: o mandacaru, o espinheiro e a lua cheia. Na folha de rosto, eis o lajedo: a pedra em sua solidão imemorial. Depois do belíssimo poema-epígrafe de Roberval Pereyr – povoado de camelos e cavalos – o poeta JIVM nos abre um portal, de onde se descortina a sede da fazenda Pedra Só, obumbrada pelo lajedo que se projeta sob o céu sem nuvens, e, ali mesmo, nos adverte fazendo suas as palavras do poeta Gerardo Mello Mourão: “Essas terras são minhas/ sobre elas hei lavrado a escritura de meu canto”. Avisado pela epígrafe e ofuscado pela claridade do céu, o leitor-viajante-convidado começa a pisar o couro do país, onde reina o Cavaleiro do Fogo.
 Entrar nesse misterioso território é adentrar “nos emaranhados da memória” de onde o poeta traz à luz, com seu verbo encantado, as origens de sua poesia telúrica, visceral e apaixonada. Porque esse é o tema principal do livro: a poesia, sua origem e suas fontes primevas. Chamo a atenção para o uso constante de palavras que remetem a início, primordial, fundamental, em construções como “o nome primeiro à luz do sol”, “O sertão encourando os primeiros saberes”, “E na penumbra, as primitivas galas”, “No Sertão, o princípio do enigma”, “Na Pedra Só, a fonte desse poema” Esses “versos sertânicos” não deixam dúvida de que o poeta precisou buscar “Outra vez as águas antigas,/ ravinas na memória do tabuleiro” e retornar à “província sagrada” para escutar o “boi das algarobeiras/ que muge a solidão” e, assim, poder revelar os segredos fundamentais de sua lírica que estão codificados em seus poemas. Adiante, nova revelação descortina-se ao leitor, quando o poeta se define afirmado nos últimos versos do cântico II: “E eu regresso e lembro que fui, que sou e serei: um cavaleiro cozido nas brasas do Sertão,/ dentro dos couros, com o sol no espinhaço,/ no meio do tempo, no meio dos tempos”.
Não é difícil ao leitor, que como eu, traz no âmago do Ser, os sons, os sabores e perfumes do Sertão, ouvir o aboio, atender ao chamado do poeta e acompanhá-lo por esse sertão de terra vermelha, povoado de bois-onças-pássaros-leopardos-cantadores-profetas-vaqueiros-cavalos e éguas. Às vezes, eu, leitora, sou ferida por um espinho de mandacaru ou perco-me no labirinto de minha própria memória (não se lê poesia impunemente); noutras, refresco-me à sombra das algarobeiras e, dali, também posso contemplar  “a paz dos lajedos e das serras”. Mas mesmo para o leitor que não carrega consigo esses signos sertânicos, não é difícil empreender essa odisseia, guiado pelo som do galope do centauro que partiu do Olho d’Água do Pai Mané, apeou por uns tempos na fazenda Ribeira do Traipu no sertão das Alagoas, levantou rancho para a cidade de Troia, passou por Ítaca e desembestou-se por desertos bíblicos até chegar à fazenda Cerca de Pedra, de onde empreendeu nova viagem até alcançar as terras da fazenda Pedra Só, na Chapada Diamantina, sertão da Bahia. Ali, o vaqueiro fundou seu reino, o “país do couro”, onde o Cavaleiro de Fogo, finalmente, pode repousar e, como um demiurgo, criar delírios de metáforas, deslumbrado com a “chã que se abre” aos seus “olhos pasmos diante da imensidão do Cosmo”.
Mas, um outro aspecto me chamou a atenção: nesse livro, mais do que nos anteriores, é possível sentir a presença iniludível da infância a perpassar quase todos os cânticos do poema Pedra Só. Desde o início, percebo que, além do boi de campina, anda com o vaqueiro, um menino moreno de cabeleira encaracolada e cenho franzido. Ele está montado num cavalo em pelo e, protegido por “uma legião de vaqueiros e pelas sete peles do gibão de couro”, segue o outro que galopa, veloz, a chicotear o cavalo arisco. Qualquer leitor, informado de que JIVM é o cavaleiro de fogo, o centauro escarlate, o demiurgo encourado, o poeta baiano das Alagoas, sabe que ele não careceria de tanta proteção ao desembestar pelo sertão de dentro se não fosse por causa do “menino todo diferente dos outros” que viaja com ele e do qual não pode apartar-se.
Ninguém consegue olvidar a infância e, talvez, nenhum outro artista além do poeta, consiga presentificá-la de forma tão bela.
Tenho certeza de que muito do que o poeta José Inácio vaticina é soprado aos seus ouvidos pelo menino, a criança que o habita e o preside. A criança é a essência do ser humano, a sua alma, o seu coração sagrado, a infância que não se pode olvidar, ainda que, em alguns momentos, seja difícil a ela retornar.
É isso. Nesse livro, José Inácio, corajosamente, acolhe a criança-menino-bezerro sem a qual sua arte não seria possível. Nesse sentido, o livro Pedra Só é prova inconteste de seu amadurecimento como poeta. Creio que sua poesia, as toadas e os aboios brotam de dentro dela e são cantados pelo poeta, primeiramente, para ela e, só então, são lançados nos espaços-tempos do Infinito, transmutados pela experiência e pelos saberes do homem-pai-amante-vaqueiro-poeta que José Inácio encarna.
E parece que, somente, na fazenda Pedra Sópela mágica da fantasia transfigurada num reino encantado, chã, abrigo e santuário – José Inácio pode retornar ao paraíso perdido: o sertão mítico, território sagrado da sua infância, onde é possível fusionar a trindade: homem-menino-poeta.
 Aqui, apeio do cavalo que me levou à beira da “inesgotável jazida”, onde quase vislumbrei o “rubi” que habita o poeta. E, ainda enredada nas infinitas teias orvalhadas das metáforas e dos signos míticos de Pedra Só, eu penso, talvez, que essa catedral seja simplesmente a infância e o rubi apenas o menino.

Ana Maria Rosa é professora graduada em Língua Portuguesa e Literatura, publica crônicas e contos em revistas eletrônicas e no blog oolhardapequenaespian.blogspot.com. Em setembro, terminou o primeiro livro de contos que está em fase de revisão.
Artigo publicado no Portal de Poesia Iberoamericana (http://www.antoniomiranda.com.br/index.html), editado por Antonio Miranda, poeta, escritor e artista plástico radicado em Brasília.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

PEDRA SÓ

Por Aderaldo Luciano



Aderaldo Luciano
A poesia de José Inácio Vieira de Melo aprisionou-me sobre o mais extenso lajedo, na nobre noite de todos os sertões, sobretudo os sertões da alma. Pedra Só é um conjunto de seis comarcas, suas cercas são de espinheiro, impossível não se rasgar passando por elas pois não há atalhos e quem procurar cancelas encontrará mais pedras e mais distâncias. Abri as asas e deixei a ventania carregar-me por todos os recantos, bromélias, palmas, orquídeas. Aprendi todas as caligrafias pétreas, ensimesmado, cheio de inquietações.


Aderaldo Luciano é escritor e doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autor do livro Apontamentos para uma história crítica do cordel brasileiro (2012)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

FLIPORTO 2012 - FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PERNAMBUCO - REGISTROS

Maurício Melo Júnior, Ronaldo Correia de Brito e José Inácio Vieira de Melo

Ronaldo Correia de Brito, Avelina e José Inácio Vieira de Melo

José Inácio Vieira de Melo - Pedra Só

Valeska Asfora, José Inácio Vieira de Melo, Marcelo José Santos e João Matias

Fábio Andrade e José Inácio Vieira de Melo

José Inácio Vieira de Melo - Os livros

João do Corujão e José Inácio Vieira de Melo 

Everardo Norões e José Inácio Vieira de Melo

Humberto Werneck e José Inácio Vieira de Melo

Antonio Cicero e José Inácio Vieira de Melo

José Inácio Vieira de Melo e João Almino

Maurício Melo Júnior, Rogério Pereira e José Inácio Vieira de Melo

José Inácio Vieira de Melo, Cristina Evelise e Braulio Tavares

José Inácio Vieira de Melo e Tuppan Poeta

José Inácio Vieira de Melo, Guiomar de Grammont e Antonio Campos

André Ricardo Aguiar, João Matias, Marina Rabelo e José Inácio Vieira de Melo

sábado, 10 de novembro de 2012

BRASIL RETRATOS POÉTICOS 2013


Acabo de receber a agenda Brasil Retratos Poéticos 2013, da Escrituras Editora. Esta agenda traz fragmentos poéticos de 35 poetas do Ceará, escolhidos por mim. Dentre eles, Gerardo Mello Mourão, Francisco Carvalho e José Alcides Pinto. Já havia feito a seleção de poetas para a Retratos Poéticos de 2010, quando escolhi 46 poetas da Bahia. Confesso que foi bem mais difícil fazer a seleção dos poetas cearenses, devido a dificuldade de comunicação, apesar de vivermos on line praticamente o tempo todo. Mas aí está o trabalho realizado, o que me dá uma grande alegria. Para os interessados em adquirir, está à venda nas livrarias, em sites e portais. Logo abaixo, o texto que fiz para apresentação da agenda.


CELEBRAÇÃO DE RETRATOS POÉTICOS 
E IRRADIAÇÃO DA POESIA CEARENSE

A publicação Brasil Retratos Poéticos completa 15 anos. Ou seja, são 15 anos de celebração da palavra poética brasileira, em edições que apresentaram um panorama da poesia de vários estados, dentre eles, Bahia, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. E ainda mais, poemas de Raimundo Gadelha ilustrados por imagens de grandes fotógrafos brasileiros que revelam paisagens encantadoras dos vários brasis que há dentro do Brasil.
Para abrilhantar esta edição comemorativa, Brasil Retratos Poéticos apresenta 35 poetas cearenses, numa significativa amostra que passeia pela poesia do século XIX até as mais recentes produções da primeira década do século XXI. Nomes como Juvenal Galeno, considerado “o pioneiro do folclore nordestino”, Antônio Sales, fundador da Padaria Espiritual, e José Albano, poeta idiossincrático, aparecem como representantes do século XIX e da poesia primordial do Ceará.
No século XX, a poesia brasileira passa por várias e significativas transformações, quando vanguardas das mais diversificadas orientações surgem, causando grande rebuliço. Na primeira metade do século, a poesia feita no Ceará, grosso modo, ainda apresentava chiliques passadistas. É possível falar de uma irradiação estética, nos poetas que surgem após a Geração Clã, na década de 1950. José Alcides Pinto, principal responsável pela introdução do Concretismo no Ceará, e Francisco Carvalho são dois dos mais representativos poetas surgidos nesta época. Ao lado de Gerardo Mello Mourão, poeta épico planetário, formam, quiçá, a tríade de poetas cearenses de maior notoriedade do século XX.  Isso sem falar da poesia popular, pois nessa seara temos o nome imbatível de Patativa do Assaré.
A partir da década de 1960, surgiram novos grupos, como o SIN (1968) e o Siriará (1979). Do grupo SIN, destacam-se, dentre outros, os poetas Pedro Lyra e Sânzio de Azevedo. O grupo Siriará, fundado por Rogaciano Leite Filho, traz os poetas Batista de Lima, Rosemberg Cariry e Márcio Catunda, entre outros que, em algum momento, participaram do grupo ou são seus contemporâneos, como Dimas Macedo, Luciano Maia, Adriano Espínola e Carlos Augusto Viana.
E a poesia cearense continua a irradiar os sertões, a selva de concreto e os “verdes mares bravios”, apresentando jovens e vigorosos poetas, seja nas suas publicações individuais, nas páginas virtuais do Jornal de Poesia (de Soares Feitosa) e da revista eletrônica Corsário, nas páginas coloridas da revista Arraia PajéUrbe ou em coletâneas, como a Antologia Massanova (2007) que reúne 34 poetas do século XXI.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
Poeta, jornalista e produtor cultural