segunda-feira, 23 de maio de 2011

JIVM - MEMÓRIA

Remedios Varo

MEMÓRIA


Gosto de subir no telhado da casa
e olhar para dentro do quintal,
é lá que estão o menino e a arte.

A incompreensão vestiu o menino.
Ele se exibiu para o azul do dia
e para os olhos daquelas línguas.

O infante, dentro da sua solidão,
encontrou a estrada e caminhou
e enveredou por tantos descaminhos.

Quantas vezes dormiu ao relento?
Quantas vezes tombou e caiu?
Quantas vezes seguiu por miragens?

Ah essas cicatrizes, esses calos
pelo corpo e pela alma do menino.
Ah, esse deserto de ilusão.

Mas, assim como existe a sede,
existe a imensidão do mar,
e as coisas vão à balança.

E o que é viver cada dia
senão beber da água
e entender os merecimentos?

Ouço vozes – muitas vozes –
dentro de mim mesmo,
todas dizem que é preciso prosseguir.


JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO



MUISTO


Pidän talon katolle nousemisesta
ja tilalle katsomisesta
- siellä ovat poika ja taide.

Ymmärtämättömyys puki pojan.
Hän paljasti itsensä päivän siniselle
ja noiden kielten silmille.

Poika kohtasi yksinäisyydessään
tien ja käveli
kääntyen monille harhapoluille.

Monta kertaa nukkui kasteessa?
Monta kertaa kaatui ja putosi?
Monta kertaa seurasi kangastuksia?

Voi noita heinäsirkkoja, noita känsiä 
pojan ruumiissa ja sielussa.
Voi tätä kuvitelman autiomaata.

Kuten on olemassa jano,
on meren valtavuus
ja asiat tasapainottuvat.

Ja miten elää joka päivä
juomatta vettä
ja kuulematta ylistystä?

Kuulen ääniä – monia ääniä –
sisälläni,
kaikki sanovat, että täytyy kulkea eteenpäin.


TRADUÇÃO PARA O FINLANDÊS:RITA DAHL


Cinco poemas da segunda edição de A terceira romaria foram traduzidos para o finlandês pela escritora Rita Dahl para publicação em revista de literatura de seu país.
Rita Dahl nasceu em 1971, em Vantaa, na Finlândia. Publicou os livros de poemas Kun luulet olevasi yksin (Loki-Kirjat, 2004), Aforismien aika (PoEsia, 2007), Elämää Lagoksessa (ntamo 2008), Aiheita van Goghin korvasta (Ankkuri 2009). Publicou também um livro de viagem sobre Portugal, O Encantador de Milles Escadas (Avain 2007) e mais recentemente o livro A liberdade da palavra finlandizada (Multikustannus 2009), entre outros títulos. Foi responsável pela revista de poesia Tuli & Savu, em 2001, e também pela revista cultural Neliö (www.page.to/nelio). Rita Dahl foi vice-presidente do PEN Clube da Finlândia durante 2006-2009, e lá realizou um trabalho com escritoras da Ásia Central, que resultou em um encontro internacional e duas antologias.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

PROJETO UMA PROSA SOBRE VERSOS RECEBERÁ OS POETAS ELDER OLIVEIRA E JOÃO DE MORAES FILHO




Amanhã, sexta-feira, 13 de maio, o projeto Uma Prosa Sobre Versos, da cidade de Maracás, receberá os poetas baianos Elder Oliveira e João de Moraes Filho.
O projeto já está no quarto ano, o que faz de Maracás a cidade pioneira da poesia no Vale do Jiquiriçá e uma referência no estado da Bahia e no Brasil.
Observando os resultados positivos, os municípios de Iramaia, Nova Itarana e Planaltino estão desenvolvendo projetos similares. No dia seguinte, sábado, 14 de maio, Os dois poetas participarão de um evento da mesma natureza na cidade de Iramaia, onde também serão homenageados.
Nas duas cidades os poetas serão recebidos com um recital de suas obras por dois grupos de recitadores, o Grupo Concriz, da cidade de Maracás, e o Grupo Renascer, da cidade de Planaltino. O Grupo Concriz recitará poemas de Elder Oliveira. Já o Grupo Renascer recitará poemas de João de Moraes Filho. Haverá um momento musical com Elder Oliveira, que além de ser um poeta valoroso é um violeiro de boa cepa.
Em seguida, O poeta José Inácio Vieira de Melo, curador do projeto, apresentará para o público os dois poetas convidados, com quem fará um bate papo sobre literatura e assuntos afins. Aberto às comunidades maracaense, iramaiense e cidades vizinhas.
Os dois eventos são gratuitos, e começam às 19 hs 30 min. Em Maracás, acontecerá no Auditório Municipal. Em Iramaia, na Câmara Municipal de Vereadores. Vá e leve seus amigos.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

VERÔNICA DE VATE - ELDER OLIVEIRA



ELDER OLIVEIRA nasceu aos 5 de dezembro de 1968 em Poções, Bahia, cidade localizada a 444 km de Salvador. Viveu a infância em Nova Canaã, cidade banhada pelos rios Gongogi e Vigário, situada a 45 km de Poções. Publicou seus primeiros versos em livretos e tablóides impressos na Tipografia Poções Ltda, de propriedade de seu tio Eurycles Macedo, poeta e jornalista autodidata. Reside atualmente em Vitória da Conquista, cidade pólo cultural e econômico da Região Sudoeste de Bahia. Participou de diversas antologias, dentre elas Antologia e Memória do VII Festival de Inverno da Bahia (Corec – 1997); O Pescador de Sonhos (da Academia de Letras de Jequié – 1998); Grandes Escritores da Bahia Vol. III (Litteris Editora – RJ, 2001); Anuário de Escritores 2001 (Litteris Editora – RJ, 2001); Concerto Lírico a Quinze Vozes (Aboio Livre Edições – Salvador – BA, 2004). Publicou os livros Malungos e Vapores & Outros Poemas (Edições UESB – Prêmio Zélia Saldanha, categoria Poesia, 2001) e O Curumim Espião (2008). Além de poeta, Elder Oliveira é músico, com canções em parcerias com importantes nomes do cenário musical do Sudoeste da Bahia.


ÁLBUM CÓSMICO


Pessoas geografitam
No gelo espesso da inconsciência

Noites gravitam instantâneas luas
Sobre vagalumes automáticos

Pássaros desovam os incandescentes
Pigmentos da aurora
Onde

A lírica tristeza da manhã
Nos contempla com seus grandes olhos



UM POEMA RASO PARA UMA
MOCINHA LINDA LÁ DO CONDADO
SERTÃO DA PARAÍBA


De todos os lados da coisa
Brota um desejo louco
De andar descalço
De comer as frutas
Bodocar as casas
Enfrentar a onça
Lambuzar o corpo
Ver chegar o trem
Malinar no sino
Junto com Clarissa

Mesmo sabendo que sou
Menos importante que a missa

sábado, 7 de maio de 2011

VERÔNICA DE VATE - JOÃO DE MORAES FILHO



João Vanderlei de Moraes Júnior / JOÃO DE MORAES FILHO (nascido em Salvador e filho de Cachoeira, recôncavo baiano - 21/03/1977), ex-Secretário de Cultura e Turismo de Cachoeira, professor, poeta e gestor cultural, graduado em letras pelo ILUFBA e mestrando em Cultura e Sociedade/Instituto de Humanidade Artes e Ciências/Centro de Estudos Multidisciplinar em Cultura/UFBA, onde desenvolve pesquisa no campo das políticas culturais para o acesso ao livro e promoção leitura na América Latina. Fundou em 2005, na cidade de Cachoeira, a Casa de Barro Cultura Arte Educação, onde coordenou o Programa Oju Aiye de Promoção da Leitura, no qual se inseriam os projetos Caruru dos Sete Poetas: recital com gostinho de dendê, as Oficinas de Investigação e Criação Literária Poesia Ouvida, Dedinho de prosa e cadinho de memória, além das Edições Oju Aiye e o Projeto de Intercâmbio Lítero-cultural Bahia Caribe Colombiano em parceria com o Taller Siembra que realiza o Festival Internacional de Poesia de Cartagena, na Colômbia, do qual foi representante no Brasil entre os anos de 2006 a 2010.
 Publicou Pedra Retorcida: Fundação Casa de Jorge Amado /  Prêmio Braskem de Cultura e Arte  2004; Portuário: Casa de Barro Edições, 2006 e  Em nome dos raios: Expressão Editora, 2009; UNO – Tríade para encantamentos (PRELO).
 Participa das antologias Murilizai-vos: 100 anos do poeta Murilo Mendes, Edufba 2001; Concerto Lírico a Quinze Vozes, Aboio Livre 2004, e XXI poetas de hoje em diante, Letras Contemporâneas 2009.  


PROJEÇÃO CACHOEIRANA EM 16 MM

I

Por baixo dos tapetes
escorrem versos cadenciados
de rotina concreta,
enquanto o ano encerra quatro estações.

II

Lá fora, a procissão carregava um corpo nu
sem códigos de barras nem etiquetas azuis.

III

Exilado,
fujo em barquinhos de papel
jogados em dias de chuva
no filete de uma lágrima.

IV

Olhando em janelas
lembro das felicidades,
Baudelaire, Narlan,
aquele homem no bar do horizonte
com braços abertos e a felicidade do mundo,
num milagre antecipado.

V

Todos os sóis nascem pontualmente
em portos de margens estreitas
no exprimido das cidades.

VI

... fujo fingindo-te amor
para não morrer dizendo não.



VIAGEM À ORDEM DE HORIZ
Ao confrade Cleberton Santos


Uma casa esturricada
enfeita caminhos erguidos
na secura da terra, mãe
da vida quando socorrida
da sede que racha sertão
e toda pedra atirada.

Aquela casa ia sozinha,
vitoriosa; tangia-nos
vestindo o caminho do sol
arrancado de nós. Estrada,
assim ia, nas tardes, nas tardes.