domingo, 27 de junho de 2010

PROJETO TRAVESSIA DAS PALAVRAS - ANO II



O projeto Travessia das Palavras é uma iniciativa da Academia de Letras de Jequié (ALJ) e tem como base o encontro de um poeta brasileiro de renome com o público jequieense, com o intuito de proporcionar a aproximação da platéia com os autores e o conhecimento de suas obras.
Esses encontros acontecem uma vez por mês. O escritor convidado fala de sua obra e da sua trajetória. O público participa fazendo perguntas. O projeto conta ainda com a participação especial do Grupo Concriz, uma turma de 30 jovens recitadores da cidade de Maracás, que fazem performances recitativas das obras dos convidados.
O projeto começou em 2009, ano em que teve a participação de oito escritores baianos, desde o poeta Florisvaldo Mattos até o escritor Aleilton Fonseca. Também estiveram presentes Roberval Pereyr, Kátia Borges, Carlos Ribeiro, Antonio Brasileiro, Ruy Espinheira Filho e Renata. Em 2010 o evento toma proporção nacional e traz escritores de várias regiões do país: José Inácio Vieira de Melo, alagoano radicado na Bahia; Wilmar Silva, de Minas Gerais; Helena Ortiz, gaúcha radicado no Rio de Janeiro; Astrid Cabral, amazonense também radicado no Rio; e a baiana Myriam Fraga.
Como já foi supracitado, os eventos são mensais, sempre aos sábados, a partir das 19h 30min, na Biblioteca Central de Jequié, teve início em 11 de junho e vai até o dia 9 de outubro.
Travessia das Palavras é coordenado por Leonam Oliveira, escritor e presidente da Academia de Letras de Jequié, e por José Inácio Vieira de Melo, poeta, jornalista e produtor cultural. Conta com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo de Jequié.

PROGRAMAÇÃO:
11/06/2010 – José Inácio V. de Melo (AL/BA)
10 / 07 / 2010 – Wilmar Silva (MG)
14/ 08 / 2010 – Helena Ortiz (RS / RJ)
11 / 09 / 2010 – Astrid Cabral (AM / RJ)
09 / 10 / 2010 – Myriam Fraga (BA)

sábado, 19 de junho de 2010

SANGUE NOVO - GIBRAN SOUSA



O DIVERSITAL DE GIBRAN SOUSA – Para GIBRAN SOUSA, o concretismo foi a maior invenção brasileira do século XX. E é com entusiasmo que ele fala dos seus expoentes e da influência que exercem em sua produção. Gibran, intitula-se um artista vário, apesar de ser conhecido como poeta. Gibran é firme em seus propósitos e criou uma maneira de fazer recitais que ele chama de Diversital, que consiste em performances poéticas nas quais ele aparece acompanhado de outros artistas das mais diversas linguagens. Gibran Sousa Evangelista é baiano, nascido em 1983. Formou-se em Farmácia pela UFBA, estuda Letras na UNEB, e abandonou Direito na UniJorge. Vamos conhecer um pouco desse jovem poeta que “Prefere o palco ao eterno, assim como o instante à estante”.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – Como descobriu a poesia? E por que ser poeta?

GIBRAN SOUSA – Escrevo por que as mulheres existem. Todo o resto é somente uma resultante dessa existência, uma digressão anunciada. Através delas eu descobri a poesia me descobrindo. Pois enquanto sempre – e desde ainda – eu li compulsivamente. De modo a passar intermináveis períodos em bibliotecas e outros locais disseminantes de doenças respiratórias. Onde invariavelmente, pelo meu interesse na palavra, eu mirava as pernas - fingindo as páginas - nos rodapés da minha retina, retinta.
Naquela altura, numa dessas milhares-mulheres-páginas, li: Ezra Pound. E toda a poesia que eu supunha então existir: desistiu; deusistiu. Fiquei preocupadamente impressionado com aquilo, naquele. Pound niilizou todo o meu entendimento de poesia. Seu Vorticismo me apontou para Hulme, Yeats, e, sobretudo Joyce. Ele tornou-se - contraditoriamente - meu herói e minha heroína; meu porto seguro e meu portu-guês. Seus Cantos já preconizavam profeticamente os nossos Campos. E assim – depois dele: depois de tanto tudo: mudo - só me cabia acender a TV, vestir um par de chuteiras, ou mesmo fazer coisas sem nenhuma importância, como viver.

JIVM – você dialoga com a poesia visual? Artistas como Arnaldo Antunes parecem exercer uma forte influência em sua criação? Se eu estiver certo, fale como se deu essa aproximação e o que o fascina nessa maneira de se conceber a poesia?

GS – A meu ver toda poesia é visual, pois toda e qualquer e cada poesia é composta por signos, ideogramas, caracteres, loci-rupestres, imagens-origens, e (/ou) outros. Ou seja, representações multimídias e transmídias de foco-visagem.
Eu dialogo mnemônica e afetivamente com a poesia sonora, apesar de discordar criteriosamente dessa nomenclatura depreciativa. No entanto, utilizo sobremaneira elementos da poesia concreta, assim como da poesia impressionista e imagista.
O Arnaldo exerce pouca influência em minha criação. E isso não é bom, muito menos o contrário, nem chega a ser ruim. Quis sua influência, mas ela não me kiss. Desde então percebo em sua poesia um viés pelo qual a minha também pretende se lançar, porém, por v(e)ias dissonantes. Deixa eu me fazer entender: O concretismo concebe a estrutura-partícula-célula-poema mais comunicável da palavra. Pela síntese, lógica e caráter holístico proporcionado (desculpem-me os poetas tradicionais, subjetivos e cristãos). Entretanto, essa mesma poesia que veio se construindo da década de cinquenta pra já, é extremamente segmentária, ensimesmada e cabotina, apesar de imensamente midiática. Tanto que existem – inclusive - poetas se esforçando para entendê-la, sem, no entanto atingir o famigerado nirvana concreto. Basta assistir a um recital do Augusto de Campos, por exemplo - um dos poetas a quem mais admiro – e pode-se perceber que muitíssimos por cento do público compreendeu pouquíssimo da apresentação. E isso é fato (desculpem-me os poetas concretos, objetivos e pagãos). No entanto, aqueles que compreendem o seu rizoma-trânsito-mórfico ficam num alumbramento inefável. E onde eu caibo nisso? Na comunicabilidade. That is the answer. O Arnaldo faz – e eu também (suponho) - com que a estética da poesia mais comunicável do mundo, seja realmente, comunicável. Tornando a poesia concreta + AXÉssível.

JIVM – O que representa a poesia concreta par você? E a poesia contemporânea da Bahia, desperta a sua atenção? Autores como Florisvaldo Mattos, Myriam Fraga, Ruy Espinheira Filho e Luís Antonio Cajazeira Ramos lhe causam interesse?

GS – A poesia concreta - junto com a velha bossa nova - foi a maior invenção brasileira do século vinte. Ela está em toda a cultura de propaganda desse nosso planeta-vício, desde o craque até o crack. Suas ferramentas, inferências e aplicações recodificaram todo o universo midiático: TV, rádio, internet, fanzine, bula, bunda, HQ, batina, tatuagem etc. Porém, apenas a imensa minoria das pessoas entende de fato essa poesia e suas implicações, embora cientes (creio) dos seus artifícios utilizados no marketing, cinema, artes plásticas, mal como na música. Mas o que a pequena maioria não sabe, é que essa poesia – ainda tão jovem e fotogênica - tem parentes senis, em preto e branco, como o E. E. Cummings e o Mallarmé.
Existem alguns poetas fazendo coisas interessantes na Bahia, são pouquíssimos, mas existem. Principalmente no que tange à poesia performática e à poesia dramática. Existem também bons escritores, e eu acompanho seus poemas com curiosidade e atenção, nas bocas, books e blogs. No entanto, num corte quantitativo, grande parte dos nossos poetas somente alimenta o tempo.
Eu conheço as obras dos autores Florisvaldo Mattos, Myriam Fraga, Luís Antonio Cajazeira Ramos, e principalmente do Ruy Espinheira Filho, pois assim como você eu também não acredito em poeta que não lê poesia, sobretudo poesia contemporânea. Mas o interesse que tenho por eles está na mesma medida do interesse que eles têm por mim.

JIVM – Quais os livros de poesia que mais lhe fascinaram e quais seus poetas preferidos? E por quê?

GS – Os livros de poesia que + me fascinaram (e também me “faxinaram”) foram: Alcools – Apollinaire, The house of fame – Geoffrey Chaucer, Poemóbiles - Augusto de Campos, Algaravias - Waly Salomão, Cantos - Ezra Pound, Memórias Inventadas – Barros, Pedra do Sono – João Cabral, Òboe sommerso – Salvatore Quasimodo, entre outros.
Meus poetas preferidos são John Donne, Amy Lowell, Paul Valéry, Cummings, Mautner, F. S. Flint, Percy Shelley e Keats. Todos eles tiveram, têm e terão em mim uma coisa delicadamente comum: o interesse pelo novo. O não deixar se convencer pelas estruturas. Pois sou eutanasiamente atraído pelo risco estético. E é justamente isso que procuro a cada poema. Corromper silêncios, pausas, sons, sotaques, dicções, concatenações, perspectivas, imagens, timbres, intenções, sugestões, expressões, incorrespondências, texturas, delays, medos, verdades e demônios.
Não sou, entretanto, um tolo defensor de vanguardas ou hermetismos separatistas, pois sei desde Patativa e Schiller que essa compreensão de esquinas é necessária para a construção do novo de novo, pela tradição vigente. Até por que a tradição é isso: tudo aquilo o que nos espera; A invenção; É o “de onde vimos” e o “para onde vamos”. E toda a vanguarda é apenas o trans, a transa, o trânsito...

JIVM – Você tem um grupo que se apresenta fazendo performance poética, fale como é a sua movimentação e de seu grupo. E mais, algum livro para publicar? Algum projeto em via de realização? E o que mais?

GS – Criei um conceito estético chamado Diversital, que também é o nome do recital e do grupo. Mas não é um grupo, especificamente. Pois esse recital tende a acontecer com pessoas diferentes, exceto por mim. Explico: não existem componentes fixos. De modo que posso trabalhar com quem tenho vontade, sem obrigações. E através desse esteio ou suporte (sem suporte) pude trabalhar a palavra com inúmeras representações, tais como: teatro, cinema, fotografia e dança. Dessa forma realizei recitais com o músico Barná Cardoso, com a artista plástica Leilane Cedraz, com o cantor e escritor Jorge Mautner, com o grupo de teatro a Trupe dos Trupícios, com o sapateador Wilson Tavares, com a museóloga Mona Ribeiro, com o diretor Railson Oliveira, com o baixista Clécio Terêncio entre outros.
Tenho cinco livros escritos, nenhum publicado. Na verdade eu nunca fiz um esforço para que isso acontecesse, já houve até tentativa de acordo, ou lançamento em cooperativa, ou ainda uma proposta de uma pequena editora local, mas nunca me interessei suficientemente. Porém, pretendo e vou publicá-los Acredito que um verso meu resume bem a questão: “Prefiro o palco ao eterno, assim como instante à estante”. Mas sempre gostei mesmo foi de luz, de gente, de microfone. Gostei tanto que ainda gosto. E gosto de gostar. Gosto da vaia, do salto, e também gosto do chão. Gosto de você que me lê agora. Mas gosto mesmo é do não!

DOIS POEMAS DE GIBRAN SOUSA


SEX SHOP SHOW


sandras simones sheilas suzanas sílvios
soprando sonoros sustenidos silvos
suspiram surdas sinfonias servis

sob suvenirs
sob suecoss
sob saraus
sob sífilis
sob sites
sob $im

salivando sentando
sumindo sugando surgindo supondo
subindo sangrando sambando saudando

ser sem sul sem sutiã sem sempre
swing silepse serpente
síncope sã
silente
ser
-mão: sob sol
suspenso: sobre sub-
missas santidades sodomizadas
sem sal sem salmo sem salmão só senão

sorrindo suando satisfazendo saciando sujos
sádicos secretos sinceros sujeitos
"suicidas sêmen suspeitos"

sem s
sem se
sem ser
sem sem
sem sede
sem sentir

sequestram-se subornam-se senzalam-se
simulando superlativos sustentam seus sonhos:
servindo sua sugestão seu sexo seus seios sua solidão



A QUEDA CAÍA EM MIM


VÍDEO-POEMA DE GIBRAN SOUSA

terça-feira, 15 de junho de 2010

JIVM - TRANSMUTAÇÃO


Escultura: David, de Gian Lorenzo Bernini


TRANSMUTAÇÃO


Eu jogo uma pedra em tua cabeça para que ela cresça em dor.
Para que, plantada em tua cabeça, a pedra frequente a tua existência
e desperte em ti a vontade de plantar pedras em outras cabeças.

Eu tenho uma vontade enorme de que um dia toda a humanidade
jogue pedras e que Deus receba a pedrada certeira, exata.



JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO

segunda-feira, 14 de junho de 2010

ROSEIRAL EM JEQUIÉ



Depois de ter lançado o Roseiral na Academia Sergipana de Letras, em Aracaju, no dia 7, chegou a vez de Jequié, cidade onde moro. Foi um evento muito legal, que aconteceu na Biblioteca Central da cidade, no dia 11 de junho, e contou com a presença de pessoas queridas, como Narlan Matos, Maurício Bastos Almeida, Leonam Oliveira, Bené Batera, Nuno Menezes, Glauce Souza, Márcia Auad, Dermival Rios, Vitor Nascimento Sá e os integrantes do Grupo Concriz, e muitos outros. O lançamento fez parte do projeto Travessia das Palavras, que coordeno juntamente ao Leonam Oliveira, presidente da Academia de Letras de Jequié. No início, Narlan Matos, poeta de Itaquara que desenvolve pesquisas na América do Norte, falou da minha poética, aproximando-me de Jorge de Lima e destacando os aspectos pastoral e telúrico da minha produção. Segundo Narlan, O Roseiral traz a pedrada necessária para que lembremos que moramos no planeta Terra, e que a água que sai na torneira vem da Natureza. Depois, o Grupo Concriz fez um belíssimo recital com poemas do Roseiral. Em seguida, fui chamado para falar um pouco. Na sequência teve a apresentação musical do Trio Arguidá, grupo de jazz, e do cantor e compositor Nuno Menezes, que interpretou quatro parcerias nossas – músicas de Nuno sobre poemas meus. Narlan Matos não se conteve e tocou várias canções com o Trio Arguidá, enquanto eu fazia dedicatórias para as pessoas que adquiriram o livro. Como disse antes, um evento muito legal.
JIVM

Leonam Oliveira

Narlan Matos

Grupo Concriz (Vitor, Aleandro, Ailana, Ivana e Marcelo)

Grupo Concriz (Ailana, Flávia e Larissa)

Público do Roseiral

Grupo Concriz

Grupo Concriz


JIVM

Trio Arguidá

JIVM e Márcia Auad

JIVM e Maurício Bastos Almeida

JIVM e Linda Soglia

quinta-feira, 3 de junho de 2010

SANGUE NOVO - ALEXANDRE COUTINHO



POESIA SEMPRE FOI FOME – Para ALEXANDRE COUTINHO “poesia sempre foi fome” e “só responde àquilo que é do desejo”. E foi com essa fome que alimentou seu desejo, quiçá insaciável, e escreveu seu primeiro livro, Estudos do corpo, no qual pôde “experimentar simetrias, compor e decompor o corpo masculino do poema”, e que tem publicação prevista para o mês de agosto. Alexandre tem 27 anos, nasceu em Iraquara, interior da Bahia, é mestrando pela UFBA e formou-se em Letras pela mesma universidade. Além de poeta, desenvolve trabalhos com música e performance. Edita o blog Infinitas Cortinas (http://infinitascortinas.blogspot.com/). Vamos, então, conhecer um pouco mais das texturas desse jovem poeta.

JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO – como descobriu a poesia? E por que ser poeta?

ALEXANDRE COUTINHO – Quando vi já estava escrevendo. Desde meu 12 anos, trago comigo cadernos desorganizados e cheios de orelhas. Daí a publicação como conseqüência. Acho que acabei me tornando poeta (se assim posso me chamar) pelo desejo de minimizar minha estupidez enquanto homem da ordem prática, a poesia acabou sendo arma contra a ignorância, minha e do mundo.

JIVM – A poesia exerce algum papel na sociedade? A poesia tem alguma utilidade? Pessoa é tão necessário quanto um pedaço de pão? Nem só de pão vive o homem, mas é possível viver de poesia?

AC – A poesia é por si só um posicionamento político ante a ordem da linguagem, dos homens e das coisas.
A partir do momento em que começo a pensar utilidade em poesia, tiro dela todo acontecimento; a poesia só responde àquilo que é do desejo.
Pessoa é um farto pedaço de pão, o resto é farelo. Poesia sempre foi fome, e temo que seja insaciável. Se não é possível viver de poesia, é possível viver com poesia?

JIVM – Quais os livros de poesia que mais lhe fascinaram e quais seus poetas preferidos?

AC – Sempre fui um leitor de poesia, muitos livros me fascinaram, entre eles : Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, da Hilda Hilst; Ou o Poema Contínuo, do Herberto Helder e Barulhos, do Ferreira Gullar. Poetas são muitos, Álvaro de Campos, Ana Cristina César, Borges, Quintana, Manoel de Barros, Baudelaire... por aí vai.

JIVM – Você acaba de ter um livro de poemas, Estudos do corpo, selecionado para publicação pela Fundação Pedro Calmon / Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Fale desse livro, de como foi gerado e o que representa essa seleção/premiação? Qual a previsão para a publicação?

AC – Passei quatro anos com Estudos do Corpo, ele já foi tanta coisa... ali pude experimentar simetrias, compor e decompor o corpo masculino do poema. Meu caderno mais maduro, minha doença mais sadia. Ele ter sido selecionado me mostrou que a coisa mais importante é realmente navegar, pois que a publicação é mero resultado do experimento. Se não fosse por uma amiga, que insistiu em escrever o projeto, o livro estaria até hoje na gaveta. Fiz algumas ilustrações pra ele também. Estou muito feliz com a seleção, ver os Estudos do Corpo ganhar autonomia só me excita mais e me liberta pra outras tentativas. O livro sairá pela 7letras, uma editora carioca, e tem previsão de lançamento para o mês de agosto.

JIVM – Algum novo livro em processo? Algum projeto em vias de realização? E o que mais?

AC – Sim, sim. As coisas estão se criando, acontecendo junto comigo. Além dos poemas, das músicas, que são regulares, porque são respirações de minha natureza sensível, venho experimentando a prosa numa tentativa de vencer uma inabilidade que tenho com histórias. Mas nem sei o que são ou quando se completarão, se é que isso é possível. Além de escrever, também me meto na música e ando desenvolvendo um projeto com minhas composições. Vamos ver no que dá.

TRÊS POEMAS DE ALEXANDRE COUTINHO

















JAZZ nº 19


eu provoco, invoco e me coloco
no meio do redemoinho
reteatralizo o desejo
invento mil máscaras
mesmo que esfaceladas
para forçar um diálogo
com teu corpo
ou com teus líquidos.
Invento um efeito qualquer
metamorfoses em cena. sujeito
e espectador. luzes no centro
que contorno. abalos na linguagem
dramas da imagem. sistemas lógicos
da ficção que invento:
uma história das fissuras
um caderno de tuas ausências
ou de meu feitiços. ou das doenças
do desejo. terreno que não se esvazia.
ritual da noite. chamamentos do dia.



JAZZ n°20


Eu já fui mais que esta sombra,
Tão noite como quem esquece
Luzes debaixo d´água. Sorriso de mil vias
Ondulações de umidade sobre a terra:
Contrários da mesma ordem
ou da linguagem das gentes;
Estudiosos da pintura
que nem sabem das velocidades,
fabricando paredes ou fundos
no côncavo das coisas:

- nos desconhecemos



NA FEBRE.


outras texturas. no delírio
a casa em chamas. quando te imagino

terça-feira, 1 de junho de 2010

PROJETO UMA PROSA SOBRE VERSOS - JORGE DE SOUZA ARAUJO



Jorge de Souza Araujo, um dos intelectuais mais admirados da literatura baiana contemporânea, é o escritor que vai abrilhantar o projeto Uma Prosa Sobre Versos, no dia 4 de junho. Transita com propriedade pela poesia, pela ficção e pelo ensaio, sendo que neste último gênero é um dos mais respeitados, tendo recebido prêmios importantes em vários estados do Brasil. O projeto Uma Prosa Sobre Versos vai explorar mais o poeta Jorge, qe vai receber homenagens de dois grupos de recitadores, o Grupo Concriz, da cidade de Maracás, e o Grupo Renascer, da cidade de Planaltino. O evento vai contar também com a presença do Coral Fascinação. O Grupo Concriz recitará poemas dos livros Os becos do homem e Auto do Descobrimento: o romanceiro de vagas descobertas. Já o Grupo Renascer vai apresentar poemas do livro Tear de aracnideos. Após o recital, Jorge de Souza Araujo será entrevistado por Edmar Vieira, coordenador do projeto, e responderá as perguntas do público. Uma noite de encanto, de poesia e de conhecimento. Imperdível!
JIVM

VERÔNICA DE VATE - JORGE DE SOUZA ARAUJO



JORGE DE SOUZA ARAUJO é baiano de Baixa grande (7/01/1947). Transferindo-se em fins de 1960 para o sul da Bahia, cumpriu o ginasial em Itabuna e o colegial em Ilhéus e Salvador. Licenciou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia de Itabuna (1972), unidade hoje integrada à Universidade Estadual de Santa Cruz. É mestre (1980) e doutor (1988) em Letras pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendendo a dissertação “ O idioma poético afro-nordestino de Jorge de Lima” e a tese “Perfil do Leitor colonial”, respectivamente. Militou em rádio e teatro e no jornalismo impresso. Fez críticas literárias para o Jornal de Brasil, Correio do Povo, Revista Nacional, Revista Tempo Brasileiro, suplemento Literário de Minas Gerais, Arte & Palavra, Revista Quinto Império, Revista de Cultura Vozes, A Tarde Cultural e outras publicações. Participou de antologias de conto, poesias e ensaios, com destaque para O moderno conto da região do cacau (Rio de Janeiro: Ed. Antares, 1978), Doze poetas grapiúnas (Rio de Janeiro: Ed. Antares, 1979) e Estudos de literatura brasileira - 1(Rio de Janeiro: Faculdade de Letras UFRJ, 1985). Como estudioso de literatura, pronunciou conferências por todo país, em cursos, oficinas, seminários e congressos. Declara-se ainda professor universitário de Teoria da Literatura, Literatura Comparada e Literatura Brasileira. É Professor Adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana.


ALGUNS LIVROS PUBLICADOS

Os becos do homem (poesia. Rio de Janeiro: Antares, 1982).
Auto do Descobrimento: o romanceiro de vagas descobertas (Ilhéus-BA: Editus, 1997).
Perfil do leitor colonial (IlhéusBA: Editus, 1999).
Profecias morenas: discurso do eu e da pátria em Antônio Vieira (Salvador: Assembléia Legislativa/Academia de Letras da Bahia, 1999).
Essa esquiva e dilacerada fauna: contos (Ilhéus-BA Letra Impresa, 2002).
Pegadas na praia: a obra de Anchieta em suas relações intertextuais (Ilhéus-Ba: Editus, 2003).
Dioniso & Cia. na moqueca de dendê: desejo, revolução e prazer na obra de Jorge Amado (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003).
Ainda que nos precipitem (Ilhéus-BA: Letra Impressa, 2005).
Letra, leitor, leituras: reflexões (Itabuna-BA: Via Literarum, 2006).
Graciliano Ramos e o desgosto de ser criatura (Maceió: Edufal, 2008).
Floração de imaginários - o romance baiano no século 20 (Itabuna: BA, Via Litterarum, 2008).


EXCERTOS DE POEMAS DE JORGE DE SOUZA ARAUJO:


A linguagem é um asno roto
no caminho das metamorfoses
o suor no rosto do texto
metáforas soluçando abortos
e seqüestrando formosuras


Caiar o coração é uma certeza tesa.
Minha alma, como um carro de bois
e sua cunha de imburana, geme, penada.
Meu sangue, por canais, transporta afetos
e potros galopam em meu peito estúpida e boçal
melancolia



A angústia humana
moeda do real vincada em símbolos
imagens de cacimbas e de nuvens
ora pó ora água profunda e intestina
habita o interior do homem
nele presença sem resguardo


O amor pra ser gostoso
nunca deve ser pamonha
tem de ser escandaloso
cego surdo e sem vergonha